Procedimentos médico-estéticos: autocuidado ou pressão social?

Procedimentos médico-estéticos

Envelhecer faz parte da vida, mas a forma como lidamos com esse processo mudou muito ao longo do tempo. Hoje, nunca tivemos tanta informação, tecnologia e opções ao nosso alcance: desde cremes de “última geração” até procedimentos médico-estéticos cada vez mais democratizados. Mas, num mundo onde se defende a aceitação de todas as idades, será que não estamos, sem perceber, a criar uma nova regra silenciosa: só é aceitável envelhecer se mantivermos uma aparência eternamente jovem? Esta reflexão pretende lançar luz sobre essa questão e, sobretudo, lembrar que a liberdade de escolha deve estar no centro de qualquer decisão.

Envelhecer com ou sem retoques, sem julgamentos
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2019

Nos últimos tempos, é impossível ignorar como se fala, cada vez mais, de procedimentos médico-estéticos, seja nas redes sociais, em artigos de opinião, revistas de lifestyle ou até em conversas do dia a dia. De forma quase silenciosa, cria-se uma narrativa: para envelhecer “bem”, deve seguir-se um certo guião, que combina uma rotina de skincare rigorosa, alimentação equilibrada, atividade física e, quando os primeiros sinais de envelhecimento aparecem, recorrer a soluções como a toxina botulínica, preenchimentos dérmicos, bioestimuladores de colagénio, fios tensores, lasers ou até pequenas cirurgias.

Por outro lado, quem decide fazer estes procedimentos pode ser acusado de não aceitar a sua imagem ou de estar “escravizado” pela pressão social. Mas afinal, é autocuidado ou é incapacidade de conviver com o espelho? E por que motivo aplicar cremes com ação nas linhas e rugas, séruns e máscaras é visto como um cuidado legítimo, mas recorrer a uma técnica médica, mais controlada e com resultados mais eficazes, continua a gerar preconceito?

Entre o “natural” e o “retocado”: onde fica a liberdade individual?
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2020

Vivemos numa época em que se valoriza, e bem, o envelhecimento e a aceitação de quem somos. No entanto, isso não deveria excluir quem prefere pequenas ajudas para se sentir mais confiante. Para muitas pessoas, os procedimentos médico-estéticos não são sinónimo de insegurança ou vaidade fútil: são apenas mais uma ferramenta, tão legítima como usar maquilhagem, pintar o cabelo ou escolher uma roupa que valoriza o nosso corpo.

Há também quem defenda que as marcas do tempo contam a história de cada um, e é verdade. Mas essa história pertence a quem a vive e cabe a cada um decidir como quer escrevê-la, sem ter de se justificar. Envelhecer bem não tem apenas uma forma “correta”. Na verdade… , tem sim, esta (artigo sobre os 5 pilares para um envelhecimento saudável, pelo reumatologista Dr. Luís Cunha Miranda).

A evolução dos ideais de beleza ao longo dos séculos
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2021

Se olharmos para trás, percebemos como a ideia de beleza é, na verdade, um reflexo da época. Na Grécia Antiga, a simetria e o corpo atlético eram valorizados como expressão de harmonia e perfeição. Na Idade Média, a pele pálida e as formas mais arredondadas indicavam nobreza, pois quem trabalhava no campo tinha a pele bronzeada. Durante o Renascimento, as figuras femininas mais voluptuosas simbolizavam prosperidade e fertilidade.

No século XX, os extremos sucederam-se: dos corpos curvilíneos das pin-ups dos anos 50 à silhueta andrógina dos anos 60, passando pelo culto da magreza quase irreal dos anos 90. Hoje, vivemos num tempo de paradoxos: de um lado, promovem-se corpos “reais” e a aceitação de todas as idades, do outro, multiplicam-se filtros, retoques digitais e procedimentos médico-estéticos que prometem juventude prolongada.

O bronzeado ao sol, muito em voga e desejado até há bem pouco tempo tem sido gradualmente substituído por uma pele saudável, sem sol, ligeiramente beijada e dourada com recurso a bronzers, produtos com brilho e gotas autobronzeadoras (eu uso todos).

Obras como The Body Project (Joan Jacobs Brumberg), Beauty and Misogyny (Sheila Jeffreys) e The Beauty Myth (Naomi Wolf) ajudam a perceber como estes padrões são tudo menos naturais: são construídos e reconstruídos ao sabor de interesses económicos, mudanças culturais e avanços tecnológicos.

Nem tudo o que é tendência funciona: a importância da informação
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2022

Outro ponto essencial é perceber que nem todos os procedimentos médico-estéticos são iguais. Alguns têm décadas de investigação e resultados comprovados; outros aparecem como modas virais, sem base científica sólida e, por vezes, com promessas milagrosas. O mesmo acontece com os equipamentos usados em procedimentos estéticos.

Por isso, é fundamental que a literacia em saúde acompanhe a curiosidade pelas novidades. Antes de decidir fazer qualquer tratamento, é preciso investigar, questionar, consultar profissionais credenciados e ter expectativas realistas.

E não esquecer o mais importante. Nenhum procedimento substitui o que é básico: uma boa alimentação, hidratação adequada, proteção solar diária, sono de qualidade e gestão de stress. Estes hábitos são os verdadeiros aliados de uma pele saudável e de um envelhecimento mais lento e equilibrado e que pratico ou tento praticar o mais possível. Os tratamentos podem complementar, mas não fazem magia sozinhos. Eu sei que o exercício e uma alimentação orientada por nutricionista é importante para evitar a gordura localizada cada vez mais frequente à medida que os anos avançam. Não me lembraria de fazer um procedimento para substituir esse “esforço”. Mas pode ser (e é) um complemento para mim.

Beleza, ciência e liberdade de escolha
Procedimentos médico-estéticos

2023 (e a primeira fotografia deste artigo tirei em 2024)

A verdade é que cada um tem o direito de decidir o que quer para si. Para uns, rugas e linhas de expressão são medalhas do tempo e devem permanecer intocadas. Para outros, suavizar sinais ou restaurar volumes perdidos é um investimento no bem-estar e na autoestima. Ambas as escolhas são válidas.

No final, talvez seja isso que devamos normalizar: a liberdade de escolher envelhecer de forma natural, com procedimentos médico-estéticos ou ambos, sem julgamentos nem culpa.

Procedimentos médico-estéticos

2025

Envelhecer tem sido verdadeiramente mágico para mim. Mais experiência, mais conhecimento, ver os meus filhos a crescer, desafiar-me a criar projetos novos. Ter muitas certezas. Baseio-me em pilares indispensáveis para envelhecer com saúde: exercício físico (faço treino de força 3 a 4 x por semana), alimentação orientada por nutricionista, no mínimo 7 a 8 horas de sono diárias, uma rede social à minha volta com família e amigos, ler, estudar e sair da minha zona de conforto. E sim, faço procedimentos médico-estéticos: aplicação de toxina botulínica 1 a 2 x por ano (falei sobre o tema aqui), lasers e radiofrequência microagulhada (3 sessões) cerca de 1 x por ano (falei sobre o tema aqui), o protocolo Beautifeye para a zona ocular e olheiras 1 a 2 x por ano (falei sobre o tema aqui) e muito pontualmente preenchimento, apenas para recuperar volumes perdidos.

Sempre acreditei que a verdadeira beleza nasce do equilíbrio entre informação, segurança, ciência e respeito por quem somos, e pelo que cada um decide ser. Porque o resto, como a história já mostrou, muda sempre com o tempo.

Como te vês a envelhecer e quais as tuas opções pessoais?

Fotografia: Ricardo Lamego, Márcia Soares e Andreia Fonseca

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