Mãe em burnout, mãe ausente

burnout

Assunto tabu, este. Já falei aqui sobre o processo de burnout de que sofri. Há muitas coisas importantes que gostava ainda de partilhar contigo. Quando passamos por um processo assim, e ainda por cima achamos que estamos longe de uma situação destas, é muito fácil não identificarmos os sinais de alarme. Para além da falta de sono e de apetite e dos problemas de memória, lembro-me que não tinha vontade de ver ninguém. Só queria estar fechada, deitada, desligada do mundo. Pouco a pouco, a exaustão foi-me consumindo, não sobrando energia para mais nada. A única energia que existia servia para dar resposta às inúmeras solicitações da empresa onde eu trabalhava.

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Vida pessoal?

Quando dei por mim já não conseguia marcar coisas da minha vida pessoal. Sair com amigos, ir a consultas, ir ao ginásio, fazer as coisas normais como ir ao supermercado e o mais importante de tudo, conseguir acompanhar os meus filhos. A empresa tinha dominado a minha vida, a minha agenda e todos os meus compromissos. Para conseguir manter-me ativa, tive de recorrer a medicação, e só assim era possível continuar a trabalhar. Tomava medicamentos para dormir e ansiolíticos para controlar o stress e a ansiedade.

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Mãe ausente

Um dia, muitos meses passados deste esquema, percebi que não era possível durar muito tempo assim. Percebi que não me podia conformar a ser infeliz. Eu estava em profunda depressão. Como num dia normal, cheguei a casa perto da hora de os meus filhos irem dormir, e quando abri a porta de casa eles nem deram pela minha presença. O Duarte e a Luísa tinham deixado de ter qualquer ligação comigo. Não havia partilha, não havia cumplicidade. Apenas discurso para cumprir tarefas (“vamos deitar”, “está aqui a roupa da escola”, “já lavaste os dentes?”). Outras pessoas tomavam conta deles. Eu pagava para alguém estar com eles, para alguém os ir buscar à escola, para alguém usufruir da sua companhia, enquanto eu desempenhava apenas a minha profissão. Foi neste momento que se deu um grande click na minha cabeça.

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Um dia não consegui mais

Acordei muito maldisposta num dia de Novembro e senti que o meu corpo já não me deixava levantar. Decidi ir ao Centro de Saúde. Pedi à minha mãe para vir comigo pois eu tinha medo de me esquecer de contar o que estava a acontecer comigo (tinha falhas de memória permanentemente). A médica, a quem até hoje estou eternamente grata, disse-me que eu tinha de parar imediatamente. Que eu estava em burnout, com o discurso muito lentificado, deprimida (eu chorava a cada frase que dizia) e sem reação. Ela disse-me que eu tinha de parar no mínimo 3 meses e recomendou-me repouso, medicação anti-depressiva e seguimento psicológico. E exercício físico.

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Ciclo vicioso?

Isto assustou-me imenso. Nunca pensei chegar a este ponto, até porque, este ritmo era o normal na empresa. Aliás, a maior parte das pessoas à minha volta (colegas e mesmo amigas) estava no mesmo registo e achei que a vida era mesmo assim. O ponto de viragem foi tentar sair deste buraco… O que me entristece é conhecer várias pessoas nas mesmas circunstâncias e que não conseguem sair do ciclo vicioso.

Há poucos dias recebi um convite da Revista Reiki & Yoga para partilhar o meu testemunho, isto porque a última edição é completamente dedicada ao tema burnout. Fica aqui o registo. Acredito que a minha experiência pode ajudar alguém a identificar atempadamente os sinais desta doença.

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reiki yoga burnoutPorque é que não se fala mais sobre este assunto?

Fotografia: Yellow Savages

Artigo da revista Reiki & Yoga gentilmente cedido pela Zen Elly.

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