A cultura social do desperdício: uma reflexão pessoal e coletiva

Cultura de desperdicio

Vivemos numa era marcada pelo consumo desenfreado e pela constante pressão para atualizar o que temos. A chamada “cultura social do desperdício” é alimentada por estratégias de marketing que nos incentivam a trocar objetos perfeitamente funcionais por modelos mais recentes. Um exemplo claro disto é a experiência que tive com a Bimby e sobre a qual falei recentemente nas minhas redes sociais. Apesar de o modelo que tenho funcionar perfeitamente e responder a todas as minhas necessidades, a marca já me tentou convencer algumas vezes a adquirir a versão mais recente (e a fazer a retoma da minha). Mas esta prática vai para além do marketing. É o reflexo de como valorizamos mais a novidade do que a funcionalidade. Substituir algo ainda útil não é apenas uma questão de custo, mas também um enorme peso ambiental. De que forma podemos mudar esta cultura social do desperdício e como é que este tema me toca em particular?

Cultura do desperdício… o que não se vê

Cultura de desperdicio

Para produzir um novo aparelho, são extraídos recursos naturais, consumida energia, e criam-se resíduos que acabam por prejudicar o planeta. Quem nunca teve problemas com eletrodomésticos? Todos nós. Recentemente tive alguns problemas com a máquina de lavar roupa na minha casa anterior e nunca descansei até fazer múltiplas reparações, por vezes até simples e acessíveis que não significariam ter de descartar um enorme eletrodoméstico para a natureza. Durou mais de 20 anos esta máquina, até o último arranjo já ser tão significativo que realmente senti que não haveria mais nada a fazer senão trocar de aparelho.

Mas esta mentalidade de substituição e descarte vai para além dos eletrodomésticos. É visível no mundo da moda, na beleza e até na organização das nossas casas. Esta reflexão fez-me olhar para os meus próprios hábitos de consumo e perceber que também contribuía para esta cultura de desperdício – mas decidi mudar. Desde há anos, e agora muito em particular, com a mudança para uma nova casa.

Consumo consciente é o contrário de cultura de desperdício?

Nos últimos anos, tornei-me cada vez mais consciente das minhas escolhas. Hoje, invisto em peças de roupa neutras, básicas mas de elevada qualidade, que nunca ficam datadas. Este tipo de peças não só facilita a combinação de conjuntos intermináveis, como também reduz a necessidade de compras constantes e impulsivas. Além disso, tenho o hábito de utilizar todos os meus produtos cosméticos até ao fim, até cortar as embalagens e “rapar” todo o seu conteúdo ou usar, por exemplo, um creme que não aprecio tanto no rosto e dar-lhe um novo uso… nas mãos, por exemplo. Se percebo que algo não encaixa comigo, procuro oferecê-lo a alguém que o possa usar, em vez de o deixar esquecido numa prateleira. Durante a mudança de casa percebi que deixei metade dos meus objetos pessoais, roupa, sapatos e acessórios de cozinha para trás e doei / dei tudo o resto.

Aproveitei este momento para eliminar os excessos da minha vida. Percebi que o excesso de roupa e objetos espalhados por todo o lado não só criava desorganização, como também me gerava ansiedade. Também a este propósito falei do “Minimalismo: mais feliz, mais tempo, mais tudo em 5 passos”, aqui.  Roupas que já não cabiam nos armários e produtos acumulados tornavam a casa mais difícil de limpar e mantinham-me constantemente sobrecarregada (ainda por cima trabalho em casa). Ao reduzir e organizar o que realmente preciso e uso, senti uma paz e leveza grandes. Foi como começar de novo. E a minha nova casa agora parece estar sempre desimpedida, arrumada e traz-me serenidade.

As redes sociais, a comunicação digital e o ciclo e cultura do desperdício

Cultura de desperdicio

As redes sociais continuam a ser um grande desafio nesta jornada de consumo consciente. Somos constantemente bombardeados com a pressão de consumir, especialmente no setor da moda. É comum vermos a comunicação do uso de peças de roupa novas quase todos os dias que, na prática, são usadas uma ou duas vezes, para depois serem vendidas ou simplesmente descartadas. Este ciclo de mostrar, usar e descartar alimenta ainda mais a ideia de que a nossa felicidade ou valor depende de estarmos sempre atualizados com as “tendências”. No entanto, esta lógica precisa de ser desconstruída. Ao optar por um guarda-roupa minimalista e funcional e de qualidade, e ao utilizar os objetos até ao fim, aprendi que menos é mais e esse mais é mais. A qualidade supera a quantidade, e isso reflete-se não só no meu bem-estar, mas também na organização e na harmonia da minha casa. Faz-me também recordar o meu passado, enquanto criança, quando via os meus pais usarem peças de qualidade até “ao fim”. Tudo tinha valor, nada era descartado, e não existia a ânsia do consumismo. E hoje em dia uso peças deles, vintage (como se diz agora).

Às vezes perguntam-me de onde é determinada peça de roupa, e eu refiro: “Tem 10 anos, muita qualidade, e irei usar até não poder mais”. Lamento, mas já não está à venda.

A importância de reavaliar as nossas escolhas

Cultura de desperdicio

O exemplo da Bimby e a minha experiência pessoal mostram que a mudança começa com pequenas decisões: reparar em vez de substituir, reutilizar antes de descartar, doar aquilo que já não usamos. Mais do que uma questão económica, é uma questão de ética e sustentabilidade.

O meu projeto mostra muitas soluções que comunico enquanto profissional e sinto que aquilo que de bom posso trazer é uma visão muito pessoal de produtos cosméticos que realmente, não raras as vezes, são comprados sem a mínima noção do que podemos esperar deles. Hoje em dia seria incapaz de comprar algo sem uma noção muito aproximada do que poderia resultar em mim pois já tive más experiências e as marcas raramente comunicam “experiência” – ao invés, comunicam promessas.

Apresentar uma análise, embora pessoal, significa, para mim, ajudar outras pessoas a terem uma expectativa um pouco mais ajustada da realidade. Como costumo dizer: uma rotina de pele, cabelo ou corpo não tem de ser complexa, cara ou gerar ansiedade. Tem de ser eficaz, dar prazer e encaixar no nosso budget. Mas a minha paixão pela beleza é muito particular. E começou com a arte, objeto de estudo da minha licenciatura (e com a fotografia, desenho, pintura, design, áreas que sempre fizeram parte de mim, desde criança).

Este é o meu trabalho. Eu vibro com isso! Mas fico assustada quando me dizem que querem comprar tudo o que mostro no meu site. Eu mostro pequenos pedaços de mim, pequenos pedaços de entusiasmo! Sinto que escrevo para mim e como nessas descrições de texturas, eficácia, aroma e toque eu sinto a beleza a acontecer. Comprar, só se realmente necessário (ou se quisermos mesmo muito!) – é o meu lema. Os meus artigos Best of 2024, são reflexões pessoais. Não são consultas de dermatologia. Problemas de pele, cabelo, corpo? São motivos de consulta médica, ponto. “Ah, mas e quando tens códigos de descontos das marcas”? Usa quem quer. Um desconto em algo que já usamos ou que queremos mesmo muito experimentar é uma mais valia. Não é um apelo à compra sem reflexão.

A cultura do desperdício só será revertida quando percebermos que o verdadeiro valor dos objetos não está na novidade, mas na sua utilidade e qualidade. Ou no que nos permite sentir. Recentemente vi uma publicação que me fez refletir: “Ter só o necessário é a nova ostentação”. Claramente aqui não se incluem todos os produtos cosméticos que entram na minha casa e que fazem parte do meu trabalho, da minha fotografia e das minhas publicações. Sinto que tenho a obrigação de dizer: “Uma pessoa normal não precisa de tudo isto. Eu tenho isto porque faz parte do que faço”. E já o disse inúmeras vezes.

Ao fazer escolhas mais conscientes, contribuímos para um futuro mais sustentável e criamos um ambiente mais equilibrado (tanto nas nossas casas como no planeta). A pergunta que devemos fazer não é apenas “Preciso disto?”, mas também “Será que estou a ceder a uma cultura de desperdício que não reflete os meus valores?”.

Vamos refletir?

 

Fotografia: Brand Photographer (Daniela Sousa)

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