Saúde sem literacia: decisões que podem ter um custo elevado

Literacia em saude

Depois desta entrevista que fiz à Teresa Peixe, sobre o seu projeto Farmacêutica de Família, achei importante abordar neste “2º episódio” alguns temas que são de uma pertinência tal que nos arriscamos a ser, não só, um dos países com mais dificuldades na Europa, mas também um dos que, por teima ou falta de conhecimento, acaba por refletir a tomada de decisões que comprometem a saúde e o bem-estar das atuais e das próximas gerações. Saúde sem literacia pode ter um custo demasiado elevado. Um exemplo simples? Os anos que demorei a ter o diagnóstico, o tratamento certo e a conseguir ter o meu cabelo de volta.

Teresa, frequentemente as pessoas sentem-se baralhadas quando têm um problema de saúde. Não sabem onde se dirigir, não sabem como escolher um médico e muitas vezes não sabem a que especialidade recorrer. O que achas que se pode melhorar neste campo?

Teresa Peixe: Existem duas portas essenciais para o Sistema de Saúde que podem ajudar a orientar os doentes: o médico de Medicina Geral e Familiar (MGF) e o Farmacêutico. O primeiro passo na saúde será sempre procurar o seu médico de MGF para fazer a avaliação inicial, ser rigoroso nas consultas de rotina e, claro, sempre que surja alguma situação médica. O médico de MGF determinará a necessidade de encaminhamento para uma especialidade específica.

A farmácia é um ponto de acesso fundamental e acessível para a população, sendo os farmacêuticos os profissionais de saúde de proximidade com a formação adequada para oferecer aconselhamento inicial sobre questões de saúde, bem como ajudar a esclarecer dúvidas sobre medicamentos e tratamentos e verificar a necessidade de atendimento médico e da forma como deverá aceder a esses serviços.

Devemos, por isso, aumentar a consciencialização sobre o papel dos médicos de MGF e dos farmacêuticos como pontos de entrada no sistema de saúde e, obviamente, fazer todos os esforços para melhorar a literacia em saúde da população.

Aconselhamento e redes sociais: quais os perigos inerentes do pedido de aconselhamento nas redes relacionado não só com os temas cabelo e pele (temáticas que abordo no projeto Beautyst) mas também noutras áreas?

Literacia em saude Teresa Peixe Farmaceutica de Familia

Há muita informação sobre saúde disponível nas redes sociais, mas nem sempre é veiculada por pessoas com formação adequada ou experiência na área e este é um dos maiores riscos ao procurar informação ou aconselhamento em saúde neste tipo de plataformas. É fundamental que quem procura informação e/ou aconselhamento através das redes sociais escolha perfis e páginas de profissionais de saúde identificados e qualificados e que, acima de tudo, se procuram aconselhamento, que o façam com profissionais que estejam disponíveis para esse tipo de abordagem.

Profissionais com formação adequada oferecem informação fidedigna, baseada em evidências e experiências clínicas, enquanto que quem não tem formação na área poderá disseminar informação incorreta ou até mesmo enganosa. Há que sublinhar que existe uma tendência para se procurar e valorizar informação que valida opiniões pré-existentes, o que é um ponto de partida que poderá levar a comportamentos inadequados em saúde e sem qualquer base científica.

Tanto na saúde em geral como nos cuidados da pele e cabelo, sabes tão bem quanto eu, são promovidas muitas práticas e muitos mitos e produtos sem qualquer base científica e casos, como tantas vezes referes, de não-médicos a oferecerem serviços que legalmente só podem ser executados por quem tenha formação e registo na respetiva Ordem.

Portanto, as redes sociais podem ser uma fonte de informação muito útil, mas é fundamental verificar sempre a credibilidade das fontes.

É frequente esquecermo-nos de uma série de perguntas que queremos colocar no âmbito de uma consulta médica e as alternativas são: esperar meses pela próxima vez ou pesquisar na internet sem orientação. Devemos preparar uma ida ao médico? E se sim, o que podemos fazer?

Sim, como já tinha até referido, é extremamente importante preparar-se uma consulta médica, assim como uma ida à farmácia.

Esta preparação vai garantir que as dúvidas e preocupações sejam abordadas e evitar sair da consulta a pensar que se esqueceu de dizer que tomava determinado suplemento ou que não percebeu quando tem de parar uma medicação, etc. e assim evitar também recorrer à internet sem uma orientação adequada.

Esta preparação inclui listar as queixas que desejam transmitir ao médico, referindo primeiro as mais importantes e que motivaram a consulta. Ter uma lista clara e organizada ajuda a garantir que todos os pontos importantes vão ser discutidos durante a consulta. Além disso, é fundamental estar preparado para responder a perguntas específicas sobre os sintomas. Por exemplo, saber quando e como surgiram, se houve outros sintomas associados, se os sintomas foram transitórios ou se se repetiram em outras situações. Essas informações ajudam o médico a fazer um diagnóstico mais preciso e a recomendar o tratamento adequado.

Se o médico solicitar exames complementares de diagnóstico, é importante entender o propósito desses exames e esclarecer quaisquer dúvidas no momento, saber se há riscos associados e se há algum local de preferência onde o médico recomende que sejam feitos. Se o médico faz uma prescrição de medicamentos, devemos ouvir atentamente as instruções que nos dá sobre como tomá-los e durante quanto tempo e certificar-se de que as instruções estão claramente escritas na receita, para que, na farmácia, possa esclarecer quaisquer dúvidas adicionais sobre a terapêutica.

Teresa Peixe, Farmacêutica de Família

 

Depois da conversa com a Teresa Peixe, percebi como é urgente falar sobre o impacto da literacia em saúde. Muitas vezes, as pessoas sentem-se perdidas quando enfrentam um problema que têm – não sabem a quem recorrer, qual o médico ou a especialidade certa, e isso pode levar a decisões erradas que saem caro, tanto na saúde como na vida. A Teresa explicou como os médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) e os farmacêuticos podem ser aliados essenciais, ajudando-nos a navegar no sistema de saúde de forma mais eficaz.

Parece-me importante reafirmar estas duas boas práticas:

  • Para determinar se um profissional é médico e qual a sua especialidade (e até competências e sub-especialidades), basta preencher o nome do profissional nesta página da Ordem dos Médicos e clicar em pesquisar.
  • Há muitos profissionais de saúde e podemos sentirmo-nos perdidos. Pedir aconselhamento a um médico de confiança para uma nova especialidade a que nunca fomos pode ser uma ajuda. Por outro lado, dentro das várias especialidades médicas há médicos que se dedicam mais a umas áreas que outras. Como é o exemplo da dermatologia, onde existem especialistas que se dedicam mais à área do cabelo e das unhas, só para mencionar um caso.

Um ponto que debatemos nesta entrevista foi o perigo de procurar informações sobre saúde nas redes sociais de forma aleatória. Há muita informação que parece confiável, mas que, na verdade, vem de pessoas sem formação, criando mitos e até riscos para quem segue esses conselhos. E haverá sempre quem goste mais de dinheiro do que ajudar pessoas. É fundamental procurar fontes credíveis e, claro, preparar-nos para uma consulta médica – levar uma lista de perguntas é fulcral. No fundo, tudo isto se resume a uma coisa: sem literacia em saúde, podemos estar a tomar decisões que não só afetam o presente, mas também comprometem o nosso futuro. E, às vezes, basta dar pequenos passos para fazermos escolhas mais conscientes e seguras.

 

Fotografia: Márcia Soares (minha) e gentilmente cedida pela Teresa Peixe (da própria)

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