Madame Pereirinha: mulher “diamante” e a marca de turbantes!

Setembro é o mês dos recomeços. Recomeçar para mim tem muitos significados. Recomecei quando passei por um burnout e decidi criar este projeto. Recomecei quando tratei a minha alopécia e me senti de novo bonita ao espelho. Há tantos recomeços na minha vida… Para este recomeço decidi trazer a história da “Madame” que, depois de um momento menos bom, iniciou um capítulo novo e tão inspirador! Cristina, ou Madame Pereirinha, é um “diamante”! Muitas sabem que passou por um cancro, mas poucas podem saber os desafios por que passou, o que a fez chorar, como brilha “na escuridão” e o que a fez lançar a sua marca de turbantes, “Madame”! Uma entrevista muito emotiva e que traz tantas importantes mensagens para este maravilhoso recomeço do ano! O que podemos aprender com a Madame?

Mais informação sobre quimioterapia e cabelo

Mas antes deixo aqui o link do artigo sobre quimioterapia e cabelo, um artigo escrito pelo dermatologista especialista na área, Dr. Rui Oliveira Soares.

Cristina, conta-me como é viver na primeira pessoa um cancro e a perda total de cabelo e sobrancelhas?

Um diagnóstico de cancro é aquela notícia que nunca esperamos ouvir. Eu tinha um cuidado especial com a minha alimentação, exercício físico e sempre achei que jamais iria ser confrontada com uma realidade como esta. Assim que iniciei os tratamentos fui pesquisar tudo o que havia na internet para me sentir bem e bonita. Optei por começar pelo cabelo, uma vez que sabia que as sobrancelhas e pestanas ainda demorariam um tempo até cair. Decidi ir cortando o cabelo e assim experimentei alguns looks. Quando senti que estava demasiado fraco e sem vida aí rapei. Já tinha uma prótese capilar mas não me identifiquei minimamente. Passei para os lenços, gostei até bastante de os usar, mas queria um acessório mais prático que fosse só colocar “e já está”! Foi aí que descobri os turbantes e agora sinto-os como se fossem uma segunda pele!

As sobrancelhas e as pestanas? Esse foi o aspeto mais difícil para mim, custou-me mesmo muito e confesso que aí chorei. Acabei por voltar a pesquisar e perceber que não me identificava com quase nada do que havia. Achei que a melhor opção para mim seria aprender a desenhar as sobrancelhas e assim voltar a ter controlo sobre o meu olhar. Fiz exatamente o mesmo com as pestanas, aprendi a desenhar um eyeliner. Sempre disse que enquanto me reconhecesse ao espelho eu iria levar esta minha nova condição da maneira que eu precisava.

madame

Que impacto é que esta fase teve na tua vida? O que vês de forma diferente?

A nível familiar foi difícil, não há como dizê-lo de outra forma, principalmente com o meu filho, o Lucas. Várias vezes me pediu para eu colocar o lenço na cabeça porque não se sentia bem ao ver-me careca. Estava habituado a ver a mãe vaidosa, arranjada. Ele próprio é que escolhia a cor do meu batom e, de repente, a mãe estava careca. Apesar de o ir atualizando sobre o meu estado de saúde, e o que isso ia implicar na minha mudança de visual, sinto que uma criança nunca está preparada.

Quanto às sobrancelhas, eu dormia com maquilhagem no rosto, não queria saber! De manhã era eu que acordava o Lucas e não queria que o meu filho me visse sem cabelo, nem sobrancelhas ou pestanas. Com o passar do tempo acabou por se habituar a ver-me careca em casa, mas achei que ia ser duro demais para ele ver-me sem expressão no rosto. Então assim fiz: deitava-me com as sobrancelhas e eyeliner desenhados.

Vejo de forma diferente a minha própria maneira de estar. Não sou tão dura nem comigo nem com os outros. Tenho uma vontade enorme de ajudar o outro, de aconselhar, de passar toda a minha força para alguém que precise dela. Sinto as causas de uma forma diferente.

A ansiedade que sempre senti em relação à minha carreira profissional, de ser empresária e conseguir faturar X (não ter tempo para nada, andar completamente em autogestão, exausta)… esvaiu-se! Quero em primeiro lugar viver a minha vida. O meu seio familiar sobrepôs-se de uma maneira abrupta e sou tão mais feliz assim! E os amigos? Abri o meu coração para as minhas “oncofriends” como eu pensava que jamais fosse acontecer. Gosto de conhecer pessoas novas e mostrar que apesar de toda a minha insegurança em relação à minha doença, porque o receio de recidiva vai andar sempre comigo, a minha vontade de viver é muito maior.

Madame Pereirinha

Todas as pessoas te conhecem por “Madame Pereirinha”. Porquê “Madame”? A “Madame” é diferente da Cristina?

A Madame surgiu porque fui desafiada para ter uma conta pública no Instagram. Eu sempre gostei de moda, tenho formação na área apesar de nunca ter feito muito mais do que roupa para mim. É aqui que eu gosto de estar. Quando fui diagnosticada, não consigo explicar o que me aconteceu. De repente tive vontade de tirar todas as minhas roupas de festa, lantejoulas e brilhos e pensei: “Não sei qual vai ser o meu dia de amanhã, mas sei que quero vivê-lo com intensidade e sem receio de julgamentos. Quero dar tudo nestes tratamentos e vou fazê-lo com elegância e glamour!”.

Num brainstorming com uma amiga fui dizendo nomes que não queria para a minha página até que digo algo do género: “Quero um nome que dignifique, que seja aquilo a que não estamos acostumados a ouvir na oncologia, quero algo chique, como uma “madame”… e a Filipa de repente disse: “É isso mesmo, não mexas mais! Madame é perfeito, combina mesmo contigo!”. Eu achei até um pouco disparatado e falei com o João, que domina as redes sociais, para lhe pedir a opinião e mais uma vez foi unânime: “Regista imediatamente a Madame Pereirinha!”. E assim nasceu a minha marca.

A Madame Pereirinha sou eu. A minha “madame” vive comigo há muitos anos, mas nunca teve espaço para ser apresentada. Chegou o momento perfeito. Quando falo nisto percebo que tudo tem uma razão de ser e esta madame que vocês conhecem agora só poderia ter surgido porque tive cancro, porque tive de repente tempo e espaço para ser verdadeiramente eu.

É inegável a paixão que tens pela vida e o bem que te sentes com a tua idade. Fala-me um pouco sobre o deslumbramento pelos “mais de 40”.

Nas últimas semanas antes de fazer 40 anos decidi que ia dar uma volta na minha vida. Queria entrar na minha nova idade com pinta (não me identificava nada com a música do Paco Bandeira, “Ternura dos quarenta”), com a minha autoestima valorizada. Então comecei por fazer uma dieta (quando estou em stress como muito, aliás, devoro comida), mas queria perder peso para sempre. Percebi e interiorizei que tinha que mudar os meus hábitos alimentares e fazer exercício físico. Mas sem metas, porque isso não existe – assim que se chega a determinado objetivo tudo descamba novamente. Perdi 15 kgs e nunca mais os encontrei. Há 4 anos que mantenho o meu peso. Estes dois fatores fizeram-me gostar muito de mim, gostava do que via ao espelho, andava orgulhosa, pensava que nos meus 20 e 30 anos não tinha tido a força de vontade e amor próprio que agora tenho e achei isso fantástico. Parece que foi preciso chegar aos 40 para me sentir bem comigo mesma!

Durante esta fase houve cuidados “diferentes” que passaste a ter? O que mudou nos cuidados de pele? Que soluções encontraste para lidar com a falta de cabelo e sobrancelhas?

Foi preciso chegar a esta fase para ter verdadeiramente cuidados comigo, nunca fui tão assertiva com a pele como agora. Sou incapaz de não colocar creme hidratante no corpo ou desmaquilhar-me antes de deitar. Tenho cuidados com o cabelo que nunca imaginei ter. Gosto de arranjar-me de manhã, maquilhar-me e ver a minha evolução ao espelho à medida que me maquilho e no final olhar e pensar: “Vamos ganhar o dia, Madame!”.

As soluções para o cabelo passaram pela “peruca” quando queria sair por exemplo à noite com o meu marido e queria passar despercebida. Optei pela prótese com franja para disfarçar as sobrancelhas. Usei lenços enquanto não tinha turbantes. Usava lenços que ficassem bem com a roupa que tinha escolhido mas os turbantes são a minha peça favorita que usei, uso e penso que vou usar para sempre.

As sobrancelhas decidi aprender a desenhá-las e aqui eu tenho que agradecer em especial à Sofia Ávila da Benefit (Almada) que testou os melhores produtos para a minha pele e teve uma paciência enorme comigo – enquanto eu não aprendi a delinear as sobrancelhas e o eyeliner não me deixou vir embora!

Madame Pereirinha

O que é que te ajudou mais a superar o cancro? Que suporte procuraste? E dentro de ti, o que tiveste de “ir buscar”?

Eu sou uma pessoa muito positiva. Acho que tudo vai sempre dar certo, que se eu quiser muito chegar a uma determinada meta eu consigo. Está em mim para o melhor e para o pior porque quando não corre bem também me deixa de rastos, mas o suficiente para depois levantar a cabeça e voltar a ir à luta. Mas neste caso precisei de ler, de me informar e de ir buscar inspiração a outras pessoas, que estavam a passar pelo mesmo.

Criaste recentemente a tua marca “Madame” com turbantes lindos! A quem se destinam os turbantes “Madame”?

Destinam-se não só a doentes oncológicas ou com alopécia, mas à mulher que quer arriscar. Quem quer usar este acessório como se fosse uma coroa, que quer mostrar o seu lado mais irreverente, mas também mais elegante. Associo sempre este acessório aos incríveis anos 20, à Arte Nova em que a silhueta da mulher é uma inspiração, às festas da Belle Époque e à modernização de um mundo novo.

Onde comprar? Através do Instagram da Madame, aqui.

turbantes Madame

Vais ter diferentes tipos de turbantes?

Sim, tenho essencialmente dois modelos. Um modelo mais comum com um nó em que dou um toque da Madame pelos tecidos escolhidos – faço uma escolha precisa de forma a chegar a todas as idades bem como diferentes estilos. Tenho um outro modelo mais composto com um alfinete que possibilita o uso reversível, isto é, o mesmo turbante possibilita 2 looks: geralmente um look mais chique e outro mais descontraído.

Adoro turbantes. Acho-os extremamente chiques. Os teus looks são uma inspiração, não só para quem passa por esta doença, mas para todas as mulheres. Que reações tens na rua? As pessoas abordam-te?

Hahahah, abordam muito! Uma vez ia a passear com o Lucas num shopping e ele diz-me “Mamã, tu és famosa?”, e eu respondi: “Não, meu amor, mas por que perguntas isso?”. E ele: “Porque está toda a gente a olhar para nós!”. E eu remato com: “É porque a mãe está bonita!”. Ele olhou para mim e sorriu a consentir.

Nos hospitais onde sou acompanhada sou abordada inúmeras vezes, não só por doentes, mas também por funcionárias e até mesmo médicos e enfermeiros. Na rua sou abordada diretamente e acabo por me divertir porque as pessoas estão cada vez mais conscientes deste acessório que é visto, não só, associado à doença, mas agora mais como acessório de moda. Tenho que dizer que grande parte das vezes que fui abordada (fora de ambiente hospitalar) as pessoas nem sonhavam que eu estava a passar por um processo de cura de cancro.

A marca “Madame” é uma marca de turbantes, ou é uma marca de muitos desejos teus?

É uma marca de muitos desejos meus. Quando registei a marca tinha tantas atividades associadas à Madame que tive que fazer um esforço para me focar no que eu queria realmente e “reduzir”. No entanto, ainda posso dar largas à minha imaginação.

Madame Pereirinha

Tal como tu, sinto que ser mulher, com mais de 40 anos, em Portugal, tem imensos desafios. Sentes que as mulheres estão desapaixonadas?

Por vezes sinto isso sim. Gosto muito de viajar e tenho orgulho em dizer que já viajei por todos os continentes. Por exemplo, nos EUA, em Nova Iorque, uma mulher num dia pode usar uma peruca de cabelo comprido e no dia a seguir pode usar uma loira de cabelo curto. A mulher é quase como um camaleão e elas divertem-se muito com isso. Em Portugal somos muito mais conservadoras, é tudo muito mais certinho, “como deve ser”… frase com a qual não me identifico nada, porque afinal o que é o “como deve ser?”. Mas ainda assim, acho que estamos a evoluir bastante. As mulheres têm cada vez mais vontade de se sentir bem e bonitas e principalmente na oncologia em que a idade das mulheres diagnosticadas com cancro é cada vez mais jovem, existe essa intenção. No entanto, acabo por receber mensagens com perguntas que começam com: “Não quero parecer fútil…”, mas… “parecer fútil?” Na nossa condição? Isso não se coloca nunca! Aliás, esta é uma palavra que não consta no meu dicionário.

O que importa é sentirmo-nos bem a aceitarmo-nos como somos e se quisermos alterar algum aspeto em nós, sou apologista de pesquisarmos, pedirmos opinião e perceber se para nós afinal faz sentido ou não, conscientes!

Madame

Diz-me 3 coisas que uma mulher pode fazer por si para estar / ser mais radiante e mais apaixonada pela sua vida?

1. Gostar de si própria é vital.

2. Atualizar-se! Aprender is the new black!

3. Viver a vida sem receios do que os outros vão dizer ou pensar! A vida é para ser vivida! É para chegar ao final do dia com a sensação de que o mundo podia acabar hoje que eu sentiria que fiz e dei tudo o que tinha! Esta forma de pensar é também o que me guia.

 

Que viagem tão boa esta… fiz esta entrevista entre lágrimas e sorrisos porque toquei em pontos que me deixaram sensível e isso foi mesmo tão bom!

Cristina Pereirinha, “Madame Pereirinha”

 

Que viagem linda a minha por poder, através do meu projeto, conhecer pessoas e projetos excecionais. Vou seguir bem de perto este caminho a que a Madame me leva! Bom Setembro! Bom recomeço!

 

Fotografia: gentilmente cedida pela Cristina Pereirinha (edição Beautyst)

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