Beautyst Interview – Mia Relógio (2ª parte)

Mia Relogio

As Beautyst Interviews são espaços de partilha em que convido mulheres a falarem abertamente, sem tabus, sobre o tema beleza. Acredito que este processo tem sido também muito terapêutico para mim. É espetacular perceber que não sou a única mulher com inseguranças, a única que tem estrias, que sente que há coisas que não estão bem, mas também que estou a fazer um caminho de aceitação para que esses defeitos sejam cada vez mais insignificantes na minha cabeça. Já alterei hábitos na minha vida por causa destas entrevistas! Publiquei aqui a 1ª parte da entrevista com a Mia Relógio, e hoje chegou a vez de publicar a 2ª parte. A Mia cuida-se muito sim, mas tem uma forma de pensar muito real e honesta. É um livro aberto. Adorei conhecer a Mia.

Mia Relógio

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P: Se encontrasses um ex namorado, o que te deixaria mais desconfortável? Estares sem maquilhagem? Cabelo num dia mau? Teres engordado? Uma roupa desadequada? Outro?

R: Não me importava nada que me vissem com essas coisas todas, mas se calhar sem maquilhagem (só se estivesse com óculos)! Se calhar se o visse pelo canto do olho passava para o outro lado da rua para ele não me ver (risos!). Se for no verão se calhar não é tão mau. Até para o ginásio eu gosto de levar alguma maquilhagem. Eu não vou de cara lavada para o ginásio, mas levo sempre máscara de pestanas, por exemplo. Ninguém merece ver-me de cara lavada! Antigamente com extensão de pestanas andava sem nada, mas nunca mais voltei a colocar extensões por causa das manutenções (e depois caem e fica estranho).

Mia Relogio

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P: Se daqui a 20 anos olhasses para trás qual gostavas que fosse o teu maior achievement enquanto blogger?

R: Costumo dizer que há 2 anos estive mesmo para acabar com o blog, quando o meu pai morreu. Andei num processo muito complicado, pois tinha alguns eventos em que aparecia, trabalhava em dois sítios e ainda tinha o blog. Mas não conseguia publicar naquela altura porque a mim custa-me imenso faltar com a verdade e eu não estava bem. A maior parte das pessoas gosta das redes sociais porque quer ver coisas bonitas, não quer ver tristeza, embora hoje já seja diferente. E naquela altura pensei: “O que é que eu tenho para dar às pessoas?”. Mas nessa altura decidi mostrar os meus dias, como eram. Houve muitos dias em que não havia partilha. O que senti com isto foi a aproximação das pessoas. A minha vida mudou completamente, sempre achei que tinha uma luz, e desde a morte do meu pai perdi essa luz. Mas esta questão de assumir a fragilidade aproximou-me de muitas pessoas. Realmente não há nada como ser verdadeiro. Por exemplo, eu faço muitos disparates nas Stories do Instagram. Quando a minha mãe me começou a seguir no Instagram até pensei que tinha de a bloquear porque ela ia perceber mesmo como sou (risos)!! Eu mostro exatamente aquilo que sou.

Mia Relógio

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Por exemplo, há muitas coisas que nunca cheguei a fazer, alguns trabalhos de publicidade, porque o meu público não ia gostar, não encaixa no meu perfil. Por isso, diria que o que me orgulhará mais daqui a 20 anos é a sinceridade para com as pessoas que me acompanham. Temos todos uma voz, e se a soubermos utilizar, sinto que posso fazer a diferença na vida de alguém. As pessoas que não me conhecem, e que me seguem, por vezes dão-me muito mais força que outras que já conheço pessoalmente.

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P: Em termos de beleza, como te vês aos 60 anos?

R: Ai!!! Vou ter que assumir os brancos! Será que vou virar loira? Adorava assumir os brancos. Mas espero ter aquilo a que chamo uma beleza tranquila. Quero continuar a cuidar de mim, e gostava de me sentir confiante a olhar para o espelho. Nunca tive uma relação muito feliz com o meu corpo. E há alturas em que me sinto bem, mas parece que estou sempre a reparar numa ou outra coisa que não gosto tanto. A minha mãe já me disse, se não me aceito completamente e com alguma confiança agora, como posso gostar de todos os meus defeitos aos 60?

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P: Botox, detox, no tox ou outro tox?

R: Eu respondo botox! Sem qualquer problema! A partir do momento em que assumi que faço botox não tenho qualquer questão com isso. Qual é o mal que existe em assumir que as pessoas fazem procedimentos estéticos? Quando vejo exemplos de pessoas que fazem procedimentos estéticos e que vão por exemplo para as revistas dizer que não fazem nada, em primeiro lugar isso não é ser inspirador. Em primeiro lugar a pessoa está a mentir a si própria. A pessoa deve estar tranquila em relação a fazer procedimentos. Eu demorei imenso tempo para decidir fazer botox e o meu médico explicou-me tudo e finalmente fiquei tranquila. Mas sinto que há muitas pessoas que queriam fazer, mas que têm receio, por exemplo. Não me arrependo nada, mudou muito a relação comigo mesma. Mas não tenho nada contra as pessoas que querem alterar coisas no seu rosto, se isso as faz feliz. O que me incomoda é que a pessoa não diga que fez.

Também respondo detox. Detox de internet! Gosto muito de dar feedback às pessoas, com calma e por vezes fico preocupada porque não consigo dar logo resposta. Por isso sinto que um detox digital faz sentido. Por vezes recebo a mesma mensagem por mail, por Instagram, etc., e a resposta parece que é para ontem. Faz-nos falta estar só à conversa, não haver telefones em cima da mesa.

P: Escolhe uma: boa pele ou boa maquilhagem?

R: Uma boa pele, porque não ia precisar de maquilhagem. Isso era o meu sonho. Se eu sentisse que tinha pele para isso, andava sem maquilhagem.

Mia Relogio

P: Tu não escondes que fazes procedimentos estéticos. Porque é que achas que este tema é um tabu?

R: Não consigo entender. Hoje em dia não entendo. Sei que há pessoas que não têm coragem de dizer. Conheço uma pessoa que é jovem e que tem muitas marcas na pele. Eu teria muita dificuldade em me aceitar com problemas de rosto e de pele que posso resolver. Porque é que as pessoas sentem que não podem falar disso? Eu fiz botox na zona da testa e na parte exterior dos olhos.

Hoje em dia, em 2019, tenho vontade de fazer essa pergunta às pessoas que fazem procedimentos e que não querem contar. É muito por aí, por as pessoas quererem mostrar uma imagem perfeita. Nós só temos a ganhar em mostrar as nossas fragilidades. Por exemplo, eu já tive apoio psicológico por causa do meu corpo. Quando falo em que preciso de perder peso (na zona da barriga) as pessoas tecem comentários menos bons. Não me comparo claro a uma pessoa que tem 80 kgs. Mas para o meu peso, para a minha altura, devia sim ter um pouco menos de peso. As pessoas julgam-me por dizer a verdade. Mas há outras pessoas que se reveem em mim, porque precisam de perder 2 ou 3 kgs. Não digo que estou obesa, mas sei quando estou a comer melhor e pior. Sempre fui muito controlada, mas com alguns abanões sinto que por vezes perco o foco. Quando era mais nova e tinha desgostos estava 2 dias sem comer e perdia imenso peso! Quando alguém me faz mal hoje em dia, eu refugio-me na comida. E isto só me aconteceu com esta idade.

Mia Relógio

Mia Relogio

Adoro esta honestidade. Já não me consigo rever em perfeição. Vamos ser mais mulheres, mais reais? Obrigada à Mia pelo seu contributo neste meu projeto, que é de todas nós.

Tenho uma surpresa para ti. Há perguntas desta entrevista que estão guardadas para mostrar depois, mas de uma outra forma, acho que vais gostar! Curiosa? O que queres saber mais?

Espaço: A BASE

Coffee break: Bit by Bit

Fotografia: Márcia Soares

 

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